Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "Vício"
Tudo começou com um convite da minha professora: “experimenta, é gostoso, não dá nada...”. Meus pais apoiaram e então comecei. Como todo “vício”, a gente começa devagar. Hoje uma vez, amanhã mais um pouquinho, fica uns dias sem, bem de boa, mas chega um momento em que a situação fica crítica e nossa vida nunca mais é a mesma.
No começo foi “Pato Donald, Mickey Mouse, Tio Patinhas, Chico Bento, Turma da Mônica...” coisas leves, mas viciantes. Juntamente, começaram a aparecer alguns livros infantis, muita figura, pouca letra, mas, com o tempo, a letra começa a ficar mais pesada.
Os gibis começam a mudar, Tex, Marvels, aparecem algumas revistas “Duas Rodas, Quatro Rodas, Superinteressante, Veja (nem sempre)”. Alguns livros, meio que por obrigação da escola, como a coleção Primeiros Passos, coleções de mistérios, aventuras.
Antes, lia apenas alguns artigos das revistas, depois comecei a ler o periódico inteiro, no mês. Passei para duas semanas, uma semana, dois dias. Começa a “síndrome de abstinência”. Passo a ler absolutamente qualquer coisa. Rótulo de Shampoo, bula de remédio, receita de comida, enfim, torna-se praticamente incontrolável.
Tenho contato com os Irmãos Grimm. A situação começa a piorar. Monteiro Lobato, Machado de Assis, Camões, Saint-Exupéry, Clássicos da Literatura mundial infantojuvenil. Minha primeira experiência de um romance adulto foi “Tuareg” de Alberto Vásquez-Figueroa. Foi minha perdição. Não consegui parar mais. Foi aí que comprei uma coleção de livros de Honoré de Balzac.
A literatura fica mais pesada. Então experimentei poesia: Drummond, Cora Coralina, Mario Quintana, Manuel Bandeira, J. G. de Araújo Jorge, e por aí vai. Achei que tinha chegado ao fundo do poço. O trabalho me afasta um pouco do vício.
Mas como todo vício, quando se retoma, volta-se ao nível anterior, e as coisas só ficam mais pesadas. Dostoievski, Marx, Nietzsche, Rui Barbosa, Orwell, Cervantes, Malba Tahan, Economia, Romances, Biografias, História, Humor, perdi a conta dos gêneros e livros que li. A compra de livros, o ciúme dos empréstimos, a necessidade do cheiro de livro novo, o garimpo nos sebos, a compra pela internet.
Quando você pensa que não dá para ficar pior, acontece, tornei o que mais temia: ESCRITOR. Crônicas, contos, textos, às vezes poesia, um blog, a coautoria de um livro. As Crônicas dos Campos Gerais.
O que virá agora? Um Romance? Faculdade de Letras ou Jornalismo? Livros de Humor? Não sei onde vai parar isso tudo.
Texto de autoria de Mário Francisco Oberst Pavelec, técnico em agropecuária, natural de Palmeira, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
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