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Um ou dois Natais

Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "Um ou dois Natais"



O Natal, apesar do apelo comercial, ainda é e sempre será uma época especial que instiga, emocionalmente falando. Se o dia da Paixão de Cristo provoca piedade e tristeza, o do seu nascimento desperta alegria e esperança em dias melhores.


Muito lá atrás, além de tudo o mais, a evocação principal se fazia pelo pinheirinho enfeitado. E era o verdadeiro, natural, cortado do mato ou, então, comprado de algum carroceiro que passava oferecendo na rua. Hoje em dia essa prática é desaconselhada ou proibida por conta da obrigatoriedade da preservação da araucária quase em extinção.


Mas naquele tempo... Bolas brilhantes e coloridas: verdes, vermelhas, amarelas, azuis. Umas poucas bem grandes e as pequenas em maior número. Miniaturas de Papai Noel e velinhas, também coloridas, eram distribuídas nos galhos verdes. Estas eram acesas por poucos minutos à meia-noite quando a família reunida cantava “Noite-Feliz”, com direito a ser repetida uma vez. Depois, só no ano seguinte.

Os presentes eram desembrulhados na hora, embora quase sempre já se soubesse o que os pacotes continham, em geral, roupas e calçados comprados com todos juntos, pais e filhos para experimentar o tamanho e escolher as cores. O melhor lugar era as lojas “dos turcos” na Rua da Estação, cognome da Coronel Cláudio.


Depois, anos mais tarde, quando a autonomia já permitia andar sozinho à noite na rua, o encanto estava na Loja Telma, descendo a Balduíno Taques, no lado direito, a meio caminho entre o Cemitério Municipal e a Praça Barão de Guaraúna.


O diferencial da decoração para as outras grandes lojas como a João Vargas ou a Tango é que na Telma o que se via por detrás da vitrine era um presépio em movimento, atração irresistível para os olhos de crianças e adultos.


Tudo perfeito e lindo. Tudo estava lá: José e Maria, os Reis Magos, o anjo e sua trombeta, as ovelhas e o burrico, as estrelas cadentes e no centro de tudo a manjedoura de palhinha com o Menino Jesus.


Mas o fascínio estava mesmo no fato de que, por um efeito de mágica ou milagre, muitas peças, de algum modo se moviam por força hidráulica do monjolo que fazia um pequeno fluxo de água percorrer todo o cenário.


Eu não me cansava de olhar para aquele vaivém suave e hipnotizante. Mesmo parado ali na calçada, indiferente às pessoas e ao mundo, podia sentir o clima de amor e paz que irradiava daquela representação.


E eu tinha a certeza de que Ele seria o meu caminho, a minha verdade e a minha vida e a noite de Natal sempre deveria ser feliz.


Texto de autoria de Wilson Czerski, militar da Aeronáutica, escritor e jornalista aposentado, natural de Ponta Grossa e residente em Curitiba, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais

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