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Foto do escritorIzabelle Antunes

Ser cientista e o que quiser: a trajetória da mulher na pesquisa

Conheça a trajetória feminina na ciência, que em 1827, no Brasil, eram impedidas de estudar matemática

Foi a primeira pessoa e única mulher a conquistar dois Prêmios Nobel e a única pessoa a conquistar o Nobel em duas áreas distintas da ciência: química e física. Foto: Bettmann/GettyImages


Durante parte da história, as mulheres foram excluídas dos espaços de produção científica e das instituições de ensino, seja por motivos culturais ou proibições legais. No entanto, algumas mulheres se opuseram a essas exclusões e fizeram história nas ciências exatas, medicina, filosofia e ciências sociais. Contrariando o machismo que promovem teorias sobre a incapacidade das mulheres de se dedicarem à pesquisa e à atividade intelectual. Apesar de toda dificuldade da época, existiram mulheres que se destacaram na história da ciência e são referências, umas delas é Marie Curie.


Marie Curie

A polonesa Marie Skłodowska Curie nasceu na Varsóvia em 1867. Diplomada em física e química, os seus trabalhos são considerados pioneiros no estudo da Radioatividade clássica, além disso, ela descobriu os elementos polônio e rádio. Foi a primeira pessoa e única mulher a conquistar dois Prêmios Nobel e a única pessoa a conquistar o Nobel em duas áreas distintas da ciência: química e física. Também foi a primeira mulher a atuar como professora na Universidade de Paris.


A cientista teve dificuldades para estudar, porque além das mulheres não serem admitidas nas universidades na Polônia, ela não tinha dinheiro para financiar seus estudos. Porém, influenciada por seu pai, que era professor de física e matemática, seguiu seus estudos. Primeiramente, numa universidade clandestina na Polônia, depois foi a Paris, na França, em uma época em que isso já era por si só revolucionário, se tornou a primeira mulher a fazer doutorado na França. Para pagar seus estudos, ela trabalhava como governanta e professora.


Por anos, Marie Curie teve dificuldade em acessar e ser aceita no meio acadêmico e científico, formado em sua maioria por homens, recorrentes vezes, precisou publicar artigos com pseudônimos ou com apoio de seu marido. E as principais alegações para isso eram que Marie era mulher, judia e originária de outro país.


Cenário brasileiro

No Brasil, a primeira lei que fala sobre educação é a de 15 de outubro de 1827, que impedia as mulheres de estudar matemática. Publicada na Coleção de Leis do Império do Brasil de 1827, o documento descrevia sobre criar escolas de séries iniciais nas grandes cidades.


No Art. 6º consta que os professores poderiam ensinar a ler, escrever, ensinar às quatro operações aritméticas, prática de quebrados, proporções, noções gerais de geometria prática, gramática da língua nacional e princípios da moral cristã e da doutrina da religião católica e apostólica romana.


Mas no Art. 12º da mesma lei, diz que “as mestras, além do declarado no Art. 6º, com exclusão das noções de geometria e limitando a instrução da aritmética só as suas quatro operações, ensinarão também as prendas que servem à economia doméstica”.

Nesta época, em que a lei foi escrita, só era permitido que homens dessem aulas aos meninos e mulheres dessem aulas às meninas.

Atividade do projeto meninas e mulheres na ciência. Foto: UFPR

Com o passar dos anos, a educação e o acesso à informação foi evoluindo, mas ainda há uma luta para que mulheres ingressem na ciência. Após 191 anos de uma lei que impedia as mulheres de estudarem matemática, em 2018 foi aprovado um projeto de lei ‘PL 840/21’ que torna política de Estado o incentivo à participação da mulher nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia, matemática, química, física e tecnologia da informação. A proposta inclui a previsão na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e na Lei de Inovação Tecnológica.


Na prática, essa lei ainda não viabiliza oportunidades de mulheres na ciência. A professora e mestre em química aplicada, Liziane Barros comenta que ela atua diretamente com a educação do ensino médio e que em 15 anos de profissão, nunca se deparou com nenhum incentivo. “Eu apoio os alunos a participarem de olimpíadas, sempre que possível trago noções de pesquisa para que os alunos se interessem, mas nunca soube de algo específico às meninas”, diz.

A aluna Débora Malaquias, recém-formada no ensino médio, comenta que o contato dela com pesquisa acontecia através de feiras de ciências. “Tinha uma semana que nós precisávamos criar algo e tínhamos acesso ao laboratório também”, comenta a aluna.


A professora doutora Christiane Borges diz que sempre de ciência, mas que foi no ensino médio que ela descobriu que se fazia pesquisa no Brasil, e o contato com a pesquisa aconteceu na graduação. “Fui bastante incentivada pelos meus professores, de ensino médio e de graduação. Comecei a trabalhar em projetos de pesquisa desde o segundo ano da graduação, quando comecei a fazer iniciação científica no grupo do professor Gilberto Sá, um dos grandes pesquisadores da área de Química Inorgânica e Espectroscopia do país”, conta a doutora Christiane.


Projeto meninas e mulheres na ciência

A professora doutora Camila Silveira é coordenadora do Projeto "Meninas e Mulheres nas Ciências", na Universidade Federal do Paraná – UFPR ela conta que o projeto surgiu da necessidade de incentivar meninas e mulheres a seguirem a carreira científica. “Estre projeto vai ao encontro de resultados de pesquisas que realizamos em nosso Grupo de Pesquisa na UFPR e de outros estudos que apontam a sub-representação feminina em diferentes áreas da Ciência. Além disso, buscamos desconstruir estereótipos sobre cientistas, oportunizar que mulheres em formação acadêmica se mantenham na carreira, formar docentes que se comprometam com a equidade de gênero e a diversidade na Ciência, além de outras estratégias com foco na superação das desigualdades no campo científico”, diz a doutora.


O projeto acontece em escolas, ONGs e universidade, com a dinâmica de inspirar e encorajar as meninas a ingressarem na ciência. A Professora comenta que a atividade também orienta os professores a incluírem este apoio na sua prática pedagógica. “Estamos longe de uma Ciência diversa, inclusiva e justa. Por isso, precisamos continuar disseminando essa pauta, provocando reflexões, agindo de modo comprometido e lutando por mais ações concretas e urgentes para superarmos os problemas das desigualdades de gênero na Ciência”, reflete a professora.

: Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa Foto: Jéssica Natal


Desafio da ciência e da maternidade

Apesar dos avanços, as mulheres cientistas ainda enfrentam muitos desafios por viver em uma sociedade machista “agora na pandemia, as mulheres foram as que mais abandonaram pesquisas, pois ela ainda é sobrecarregada com afazeres domésticos e cuidados com os filhos, responsabilidades que não recai igualmente sobre os homens”, avalia a professora Liziane.


Segundo a professora, o incentivo precisa acontecer além de uma lei, é necessário ter bolsas, rede de incentivo, lugar para deixar os filhos, ter políticas efetivas para que as mulheres possam participar de pesquisar. “Do que adianta incentivar e não viabilizar?” indaga.


Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) a professora doutora Christiane Borges também pondera o desafio da maternidade e pesquisa. “A área de pesquisa científica é muito dinâmica e competitiva, temos que ter muita dedicação, e essa dedicação é mais difícil para mulher com família e filhos. Acabamos dedicando menos tempo a pesquisa com que diminui nossa "produtividade" por isso observamos que, por exemplo, em algumas áreas temos mais estudantes de graduação no sexo feminino, mas nos mais altos níveis das bolsas de pesquisa do CNPq encontramos uma maioria do sexo masculino”, relata a doutora.

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