O reitor da UEPG, professor Miguel Sanches Neto, comemorou a realização das provas, em especial durante a pandemia
Antes de entrar nas salas de prova, o coração bate mais forte e é impossível não se sentir ansioso. São meses de preparação e estudos para realizar provas que vão definir o futuro profissional, com o ingresso em uma universidade pública. Dentre os mais de 8,1 mil candidatos que se inscreveram para a primeira etapa do Processo Seletivo Seriado da Universidade Estadual de Ponta Grossa (PSS-UEPG) neste domingo (15), nove tiveram desafios a mais na preparação e solicitaram atendimento especial para a realização da prova.
O reitor da UEPG, professor Miguel Sanches Neto, comemora a realização do PSS, em especial durante a pandemia. “Houve a preocupação de que talvez não conseguíssemos fazer o PSS1 por conta da Covid-19, portanto é uma vitória para a UEPG, e uma vitória para os alunos e as alunas das nossas escolas, porque continuamos permitindo que o ingresso se faça através desse processo seriado”. O PSS é uma modalidade de ingresso na graduação que leva em conta três provas, realizadas no decorrer do Ensino Médio (1ª, 2ª e 3ª séries), com conteúdos divididos entre as séries.
“Desejamos uma boa sorte a todos que estão fazendo as provas e reafirmamos nosso compromisso de manter a Universidade sempre ativa, mesmo durante a pandemia”, complementa o reitor. Durante a tarde de domingo, foram aplicadas provas em 48 locais, nas cidades de Apucarana, Cascavel, Castro, Curitiba, Foz do Iguaçu, Francisco Beltrão, Guarapuava, Irati, Jacarezinho, Jaguariaíva, Londrina, Maringá, Palmeira, Ponta Grossa, Rio Negro, São Mateus do Sul, Telêmaco Borba, Umuarama e União da Vitória.
Dos 8114 inscritos, 76% compareceram para fazer as provas. O chefe da Coordenadoria de Processos de Seleção (CPS), Edson Luis Marchinski, avalia que o número reflete uma situação de melhora nos índices da pandemia. “O número de ausentes é considerado baixo, em comparação com o PSS 3 realizado em maio, quando tivemos 51% de ausentes”, conta.
Biossegurança
A aluna Beatriz Palinski, que pensa em fazer Comércio Exterior, esperava ansiosa o início da prova. “Comecei a estudar em setembro. Espero que dê tudo certo”, comenta. “Me sinto segura para fazer a prova. Li o regulamento e acredito que vai dar tudo certo quanto às questões de biossegurança”.
As provas precisaram ser adiadas duas vezes; aconteceriam em novembro de 2020, mas foram transferidas para maio de 2021 e novamente para este domingo. Para garantir a segurança dos candidatos, fiscais de prova e demais envolvidos, a Coordenadoria de Processos de Seleção segue um rígido protocolo de biossegurança. Cada local de prova teve um número reduzido de candidatos, para evitar aglomerações, e a entrada dos candidatos nas salas aconteceu de forma escalonada.
O protocolo de biossegurança contempla uma série de medidas antes, durante e depois das provas para garantir a segurança de candidatos e colaboradores. Os procedimentos gerais de prevenção são o uso obrigatório de máscaras; distanciamento social de pelo menos 1,5m nas áreas de fluxo, entrada e salas de provas, com entrada de maneira escalonada; higiene frequente das mãos com água e sabão e/ou álcool em gel 70%; dentre outras. Os locais receberam uma série de adaptações para garantir a segurança de todos, além de higienização cuidadosa antes e depois das provas.
Atendimento especial
Os pais acompanham, orgulhosos, a chegada dos filhos no Campus Central da UEPG. Para muitos, é a primeira prova realizada para ingresso em uma universidade – o que já é motivo de orgulho. Mas para os alunos que solicitaram atendimento especial, a sensação é melhor ainda: de igualdade.
O tipo de atendimento que cada aluno vai receber depende do diagnóstico, deficiência ou transtorno de desenvolvimento. No caso dos nove alunos que prestaram a prova neste domingo, todos fizeram a prova em salas isoladas, com acompanhamento de um fiscal em cada sala.
Meirielli Aparecida da Luz está pensando em fazer Administração, graduação que a irmã também cursa na UEPG. Ela é portadora de deficiência intelectual e precisou da leitura das questões, transcrição da redação e um tempo adicional de 50% para realizar a prova. “É um momento de muito nervosismo”, destacou. “Mas foi uma preparação muito boa e está sendo uma experiência muito boa”.
Na sala em que Meirielli prestou a prova estava Liriane Maria Clarindo, fiscal do atendimento especial. “Vou fazer a leitura de toda a prova e também a transcrição do texto de redação. Ela vai ditando, eu faço o texto da forma como ela fala, depois leio o texto com ela e ela pontua”, explica. “Eu estou à disposição da aluna, procurando ser ela nesse momento da escrita e da leitura”.
São anos de experiência nesse trabalho. Por isso, é com conhecimento de causa que Liriane diz que o apoio prestado aos alunos é muito importante. “Tendo esse atendimento, o aluno está em pé de igualdade com outro para uma vaga em um curso superior. Ao longo dos anos do meu trabalho dessa forma, eu tenho visto um grande número de pessoas que têm conseguido ir para um curso superior e depois para o mercado de trabalho por conta dessa forma de atendimento”, comemora.
“O atendimento especial é um compromisso com a Universidade inclusiva”, garante o reitor da UEPG. “A Universidade mobiliza toda uma equipe de especialistas para que os alunos e as alunas tenham a tranquilidade de fazer a prova. É um momento difícil para todos, e particularmente para aqueles que necessitam de algum tipo de acompanhamento, então revela esse caráter acolhedor da UEPG”.
Logo após a inscrição dos candidatos, já começa o trabalho da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis (Prae), que organiza o atendimento especial em parceria com a Coordenadoria de Processos de Seleção (CPS). De acordo com a necessidade de cada aluno, a equipe procura um profissional capacitado para atender. “Se tem um aluno surdo, a Prae encontra um profissional de Libras para acompanhar; se é um aluno com baixa visão ou cego, um profissional que seja ledor, que tenha treinamento para fazer essa leitura da prova”, explica a professora Ione Jovino, pró-reitora de Assuntos Estudantis. Os fiscais de prova são profissionais especialistas, normalmente de instituições parceiras da UEPG, como a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadevi) e a Associação de Proteção dos Autistas (Aproaut).
“Começa com a análise dos laudos, de qual a necessidade do aluno, do perfil do profissional que vai atender, e em alguns casos treinamento adicional desses profissionais”, conta Ione. O ensalamento também é uma decisão voltada às necessidades dos alunos: o local precisa ser de fácil acesso, com ventilação e suporte adequados. “São alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e outras situações, como quem tem diabetes e precisa fazer a dosagem de insulina”, explica a pedagoga da Prae, Iomara Favoreto. “Os alunos geralmente precisam de professor para ler e transcrever, de tempo adicional para realizar a prova e de uma sala especial em que não tenha muitos alunos ou em que fiquem sozinhos com o fiscal”.
Igualdade e oportunidade
“Tenho que estudar mais e me dedicar mais do que os outros”, diz Lavínia Santos Cruz. Ela tem dislexia, um transtorno que dificulta a leitura e a escrita. “Na hora do nervosismo, a gente não consegue realizar a prova. Então marca qualquer coisa, chuta uma resposta. Mas quando tem um atendimento, é feito com mais calma, tranquilidade, capacidade melhor”. Lavínia se preparou com afinco: fez uma planilha de estudos, estudou por videoaulas, que para ela são um formato melhor, e por resumos da matéria.
Para outros alunos, a mera tranquilidade de estar sozinho na sala de aula já ajuda – e muito – a realizar a prova da forma como se preparou. Na sala em que Liriane Aparecida Ieguer Garcia atuou como fiscal, o aluno tinha um transtorno de ansiedade e recebeu um tempo a mais para fazer a prova. “Eu vou só acompanhando o atendimento. Vou estar sozinha com esse aluno, enquanto ele mesmo lê e responde à prova”, explica.
Uma oportunidade para entrar na Universidade: é assim que Liriane resume a importância do atendimento especial. “Se ele concorrer em sala normal, junto com os outros alunos, essa concorrência vai ser desleal. O atendimento especial garante que ele consiga fazer a prova com mais tranquilidade e tenha a mesma oportunidade que os outros alunos têm”, enfatiza.
Universidade inclusiva
A partir da demanda criada pelos vestibulares, a Prae consegue acompanhar as necessidades de inclusão na universidade e garantir a permanência desses alunos, depois que são aprovados. “Hoje, a gente sabe quantos alunos com deficiência prestaram o vestibular e o PSS, acompanha o resultado e já sabe de antemão quantos vão entrar”, explica Ione. “Isso cria a demanda para que a gente possa negociar junto às instâncias da Universidade e até fora da Universidade, o atendimento, materiais pedagógicos e a assistência estudantil adequados para esses alunos”.
“Uma universidade mais inclusiva, de fato, tem que estar atenta a todos os detalhes, desde garantir o direito de prestar o vestibular, até depois que entra, se desdobrando para que ele possa também ter um acompanhamento acadêmico adequado”, diz a pró-reitora. “Não adianta só promover a entrada, mas promover a permanência também é fundamental”.
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