Iniciativa ponta-grossense tem reconhecimento nacional ao apostar na missão de aproximar livros sem leitores de leitores sem livros
Quem diria que uma “ideia maluca” de um professor universitário lá em julho de 2013 se transformaria em um dos maiores projetos de incentivo ao hábito da leitura no Paraná. Passados oito anos de sua criação, o Pegaí Leitura Grátis já disponibilizou quase 400 mil histórias para um incontável número de leitores, em um ciclo de compartilhamento de livros que acredita na auto responsabilidade de seu público.
A lógica pode parecer simples, mas os detalhes por trás da ação são inimagináveis para quem vê de fora. A confiança de que o leitor irá devolver o livro na caixa de coleta após fazer a leitura é um dos pontos chave do projeto. Outra característica do sucesso é a participação maciça de dezenas de voluntários, que, só em 2020 somaram 8.112 horas de atividades e já passaram de 368 pessoas ao longo destes oitos anos.
Após dois anos de forte atuação, em 2015 foi formalizado o Instituto Pegaí Leitura Grátis, uma associação sem fins lucrativos que possui regimento próprio e é administrada por uma diretoria subordinada a um Grupo Gestor, Conselho Fiscal, Conselho Consultivo e Assembleia Geral, todos formados por voluntários. Hoje, a iniciativa se divide em três projetos: Pegaí Leitura Grátis, Alimentando Mentes e Hospital de Livros, cada um com uma missão diferente, mas todos com o objetivo em comum de estimular o gosto pelos livros.
8 ANOS EM 8 NÚMEROS
O Pegaí contabiliza não só boas histórias, mas também números que impressionam e mostram a dimensão que o projeto vem tomando ao longo de sua história. Atualmente são 146 voluntários cadastrados que colaboram regularmente com a ação, atuando nas mais diversas áreas.
Em oito anos já foram disponibilizados mais de 364.333 livros nas estantes e mais de 24.085 livros em kits de alimentos, sendo que, deste total, 127.000 exemplares foram impressos pelo próprio Pegaí e 7.865 foram restaurados no Hospital de Livros, em funcionamento na Penitenciária Estadual de Ponta Grossa e na Comunidade Terapêutica Rainha da Paz, em Carambeí.
Todo este volume de livros e de voluntários fizeram com que o Pegaí expandisse seus horizontes, estando presente atualmente em 15 cidades paranaenses, com 67 estantes e 176 pontos de coleta. Já o número de emoções e sensações ao ler uma boa história a reportagem não conseguiu (e nunca conseguirá) apurar.
8 ANOS EM 8 MOMENTOS
Já é possível escrever um livro sobre a história do Pegaí – e ele não seria pequeno não. Em oito anos de estímulo à leitura, diversos acontecimentos marcaram a iniciativa. Convidamos o idealizador e presidente do Instituto Pegaí Leitura Grátis, Idomar Augusto Cerutti, para destacar oito importantes momentos deste legado.
O primeiro deles foi a formalização do Instituto, em 2015. “A partir daí pudemos fazer parcerias com empresas, receber recursos de maneira formal e participar de editais. No início, em 3 de julho de 2013, não existia essa formalização”, conta. O segundo momento apontado por ele foi a história com John Wood, autor do livro ‘Saí da Microsoft para mudar o mundo’, que pode ser lida clicando aqui.
A criação do Hospital de Livros também marcou a história do Pegaí, bem como o feito de ser finalista do Prêmio Jabuti 2019 no eixo Inovação de Fomento à Leitura, que deu luz ao trabalho realizado pelo Instituto em âmbito nacional.
Em 2015, a importante decisão de começar a imprimir livros abriu novos horizontes ao Pegaí. “Isso nos mostrou que temos como potencializar nosso alcance para muitos leitores. Até o momento já foram impressos mais de 20 títulos”, relembra Idomar. Também naquele ano o Instituto obteve seu reconhecimento como entidade de utilidade pública municipal, seguido, em 2016, da esfera estadual, permitindo a participação no Programa Nota Paraná, que gera recursos e torna o trabalho sustentável economicamente.
Impossível não destacar a influência da pandemia da COVID-19. “Tivemos a impressão de que o Pegaí poderia acabar, pois existia a possibilidade de os leitores ficarem com medo de pegar livros. Isso nos forçou a repensar para continuar trabalhando dentro de um protocolo seguro, como o envio de livros para quarentena antes de irem para as estantes e a utilização de lacres indicando nossos protocolos. Também tivemos a ideia de criação do projeto Alimentando Mentes, que disponibiliza livros em kits de alimentos entregues por escolas, igrejas e instituições, expandindo nossa atuação de forma segura”, relata o presidente.
Por fim, ele aponta a exposição realizada no Aeroporto Internacional Afonso Pena, em 2021, que, segundo ele, “permitiu uma avaliação importante do que fazemos, como fazemos e o quanto fazemos, para nos dar a noção de que o Pegaí é muito mais do que um projeto que estimula o hábito da leitura”.
8 ANOS EM 8 NOVOS LIVROS
O ano de 2021 será o de maior diversidade de autores e títulos impressos pelo Pegaí. Além da reimpressão de uma nova tiragem do livro ‘Tesouro dos Mares Gelados’, de Ana Lúcia Merege (Niterói/RJ), oito novas obras chegarão aos leitores em tiragens especiais, todas com papel da BO Paper Brasil Indústria de Papéis (miolo) e da Papirus Indústria de Papel (capa), além de empresas parceiras e de recursos do Programa Nota Paraná.
Já foram impressos e disponibilizados os livros ‘Mórbit: os detetives monstros’, de Norbert Heinz (Guarapuava/PR), ‘A Turma do Rock’, de Mirian N. Dohrn (Porto Alegre/RS) e ‘A menina que comia livros’, de Regina Drummond (atualmente morando na Alemanha).
Nos próximos meses ainda serão disponibilizadas obras de Anderson Novello (Curitiba/PR), Jaqueline Conte (Curitiba/PR), João Paulo Hergesel (Alumínio/SP), Toshio Katsurayama (São Paulo/SP) e Simone Pedersen (Vinhedo/SP).
8 ANOS EM 8 DEPOIMENTOS
"Ser voluntária do Pegaí é uma experiência alegre, prazerosa, gratificante. É doar um pouquinho do meu tempo naquilo que acredito. É a satisfação de me sentir útil” - Débora de Fátima Januário, voluntária desde 2015.
“Trabalhos de voluntariado são ações que fazem o bem, não só bem aos outros, mas o bem a nós mesmos. O ganho é mútuo” - Peterson Strack, voluntário desde 2016.
“O que me motiva a fazer trabalho voluntário é o anseio em ajudar o próximo. Estar por uma causa, fazendo o bem, experimentando novas experiências e, acima de tudo, fazendo a diferença no mundo” - Renan Henrique Lemes, voluntário desde 2015.
“Trabalho com o Pegaí porque acredito no poder da leitura junto do poder da imaginação para melhorar o dia-a-dia das pessoas” - Gabriel Bojko, voluntário desde 2019.
“Ser voluntária é mais do que doar seu tempo para algo que você acredita. É colocar suas energias em algo que você crê ser transformador. É acreditar, todos os dias, em um mundo diferente e melhor” - Janinie Jurich Pillati, voluntária desde 2019.
“A sensação de trabalhar com inúmeros tipos de aventuras é gratificante. Você nunca sabe qual história irá encontrar, e me sinto realizado em saber que estou passando essas histórias pra outras pessoas” - Johann Dobruski, voluntário desde 2019.
Comments