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O fogueteiro do Centro Operário

Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "O fogueteiro do Centro Operário"



Era uma tradição que todo dia 1º de maio começasse com a alvorada festiva, comemorando-se o Dia do Trabalho e também o aniversário da entidade. Foi lá que entendi que o orador da diretoria nada tinha a ver com a Igreja de São José, que eu frequentava quando criança. O orador fazia as saudações e enaltecia a data e o próprio Centro Operário Cívico e Beneficente em cada ano de sua existência.


A sede estava no largo Professor Colares esquina com a rua Visconde de Nacar, com ligação com a rua Theodoro Rosas, onde havia a entrada para as canchas de bocha e o bar. O Centro Operário foi uma das mais importantes organizações de trabalhadores de Ponta Grossa, numa época em que essas entidades fomentavam uma larga vida social e também cultural para associados e familiares.


Conheci o Centro Operário, e muito bem, por causa de meu avô, Adolpho Stremel, um exímio e requisitado alfaiate que tinha seu local de trabalho a poucos metros da entidade. Era um membro assíduo e bastante preocupado com a entidade. Extraoficialmente era o fogueteiro, o homem que cuidava da preparação e soltura dos fogos no dia 1º de maio, data aguardada com indisfarçável ansiedade, especialmente para os netos do alfaiate, entre os quais, eu.


Éramos sete em uma faixa de idade próxima, que nos encontrávamos com relativa frequência, formando uma turminha do barulho, em todos os sentidos da palavra.


No final de um abril, nos anos 1970, a turma de primos resolveu fazer uma busca na oficina de alfaiataria do avô. Sob a grande mesa, cujo tampo ele usava para estender os tecidos, fazer as marcações com giz e recortar, além de também passar as peças prontas com o pesado ferro a carvão, em meio a algumas peças de tecidos estavam guardados os fogos para o dia 1º de maio, que se aproximava. Por que não apanhar dois ou três daqueles foguetes para ver o que havia dentro? Lá foi a turma abrir os foguetes.


Sempre ouvíamos um conhecido ditado: ‘’Criança que mexe com fogo acaba fazendo xixi na cama’’. Depois de risos com a queima da pólvora retirada das bombas, o que produzia uma rápida fumaça em elevação, a prima mais velha cortava a ponta de uma bomba com uma faca, sobre uma pedra, e ao começar a bater com o fio da faca produziu uma faísca. O estouro da bomba resultou em um dedo quase decepado, uma corrida de familiares até a Santa Casa e muitas e merecidas broncas.


O fogueteiro do Centro Operário nos ensinou que criança não deve mexer com fogo, principalmente quando há pólvora por perto.


Texto de autoria de Rogério Geraldo Lima, empresário, redator e radialista, Palmeira, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais



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