Confira a Crônica da semana da Academia de Letras dos Campos Gerais: "Enfim… A aposentadoria"
Experimentamos a sensação de véspera de Natal tantas vezes! Mas a sensação da espera da iminente aposentadoria é como a espera do presente mais desejado depois de uma vida de dedicação ao trabalho.
Está chegando a hora de usufruir a minha aposentadoria. Meu Deus! Não ter hora para acordar, nem alarme para odiar. Ah, não vou levantar cedo para varrer a calçada. Vou curtir as horas preguiçosas dizendo pro tempo que agora ele não manda mais em mim.
Quantos dias eu percorri o mesmo caminho e repeti durante anos a mesma rotina. Hoje, a menina que mora em mim veio ao meu encontro e me levou pela mão até as salas onde outrora eu era aluna. Nesta escola eu escrevi uma linda história. A menina que anda pelo pátio, cheia de sonhos, ainda vive nesta mulher madura que durante anos se dedicou aos alunos que, mesmo que não tenham chegado à universidade, pelas minhas mãos se tornaram pessoas melhores. Isso não tem preço. Eu sei que (re)construí vidas e contribuí para tornar a sociedade melhor.
Os seres que por mim passaram encontraram em mim muitas vezes o alicerce para seu futuro. Eu briguei, insisti, entreguei meu bem mais precioso para esta escola, o meu tempo. O tempo que gastei nas horas que deslizaram tornando-se dias, semanas, anos. O tempo passou e trouxe-me aqui onde estou. A menina que estudou aqui se tornou professora daqui e hoje, às vésperas de dizer adeus, experimenta sensações ora de alegria pela tão esperada aposentadoria, ora de tristeza por partir. Eu não vou só, cada pessoa que passou por minha vida é única. Cada pessoa sempre deixa um pouco de si e leva um pouco de nós, essa frase de Saint-Exupéry resume hoje o meu sentimento. Não me sinto velha. Sinto-me vencedora por ter chegado à aposentadoria.
Texto de autoria de Marivete Souta, professora aposentada, residente em Ponta Grossa, escrito no âmbito do projeto Crônicas dos Campos Gerais da Academia de Letras dos Campos Gerais
Comments