Conheça um pouco mais sobre o "Patrono da Educação Brasileira" que celebra seu centenário neste domingo ('19)
Um caminhante da educação. Entre campanhas de alfabetização, livros escritos, políticas públicas elaboradas e tiradas do papel, Paulo Freire espalhou a semente de uma pedagogia popular na qual todas as pessoas são consideradas agentes do conhecimento. Nela, os processos educativos se relacionam aos contextos sociais a partir da consciência crítica e da criatividade de professores e alunos.
"Paulo Freire tinha o pensamento de que todo mundo deve externar o conhecimento que tem", afirma Margarete Nara da Silva, educadora da rede pública no Rio Grande do Sul. "O aluno deve ser crítico, questionar. O professor deve ser o mediador, para trazer à tona, quando necessário for, a criticidade. E eles realmente absorveram esta posição e sabem executá-la", diz.
Freire completaria cem anos hoje. Inspiração para gerações de professores e pesquisadores, o pedagogo recifense e cidadão do mundo desenvolveu programas de alfabetização em diversos territórios, incluindo países da África, como Moçambique e Guiné-Bissau, e da América Latina, dentre os quais Chile e Nicarágua.
"O que fizemos durante a Cruzada Nacional de Alfabetização, no começo dos anos 1980, enalteceu a nação e todos que participaram daquele momento histórico", conta a nicaraguense Leonor Chiang Gonzalez. "As brigadas voluntariamente se formaram atuando nas cidades e no interior, e o analfabetismo caiu drasticamente." De acordo com ela, a redução foi de 52% para 12,9%.
No Brasil, o denominado patrono da educação elaborou o Plano Nacional de Alfabetização tendo como inspiração uma experiência anterior, na qual ele conseguiu ensinar 300 adultos a ler e a escrever em 45 dias, no Rio Grande do Norte.
O presidente João Goulart havia programado a implantação de um projeto de formação de educadores em massa, com 20 mil núcleos de cultura, mas o golpe civil militar de 1964 enterrou essa possibilidade e encarcerou o pedagogo por 70 dias. Freire foi classificado como "um dos maiores responsáveis pela subversão imediata dos menos favorecidos", segundo documentos oficiais da época.
Quando recuperou a liberdade, partiu para o exílio, de onde foi lançado seu livro mais lido ("A Pedagogia do Oprimido"), retornando ao Brasil somente na década de 1980, com a gradual reabertura do país.
Anos mais tarde, na década de 1990, na condição de secretário municipal de Educação de São Paulo, no governo da prefeita Luiza Erundina, ele finalmente teve a chance de concretizar políticas públicas, entre elas o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova), até hoje referência nacional.
Paulo Freire, nesse e em outros contextos, destacava a educação como um ato político: "Professores e alunos devem estar cientes das 'políticas' que cercam a educação. A forma como os alunos são ensinados e o que lhes é ensinado serve a uma agenda política".
Recentemente, muitos dos debates envolvendo a educação estiveram dominados por posições conservadoras e que, muitas vezes, confundem a opinião pública —a exemplo da bandeira da "escola sem partido" ou a defesa intransigente da militarização das instituições de ensino. Essas posições convergem para o que Freire definiu como "cultura do silêncio", utilizada para oprimir setores vulneráveis, submetendo-os aos interesses da cultura e da classe dominantes.
Do lado otimista, a vivência de escolas nos acampamentos e assentamentos do Movimento Sem Terra e a maior circulação de conteúdos produzidos por autoras e autores antirracistas e descolonizados demonstram que segue na estrada o legado freireano da qualificação dos processos educativos e, consequentemente, das relações sociais.
Freire morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997, mas suas ideias batem forte no coração de brasileiros envolvidos com diferentes formas de educação no país. Conheça livros escritos pelo pedagogo e outras obras relacionadas ao universo pedagógico.
Confira as sugestões:
- História do menino que lia o mundo - Carlos Rodrigues Brandão.
- Testamento da presença de Paulo Freire, o educador do Brasil - Ana Maria Araújo Freire.
- Pedagogia da autonomia - Paulo Freire.
- Paulo Freire - Vida e Obra - Ana Inês Souza.
- Outra educação é possível - Luana Tolentino.
- O movimento negro educador - Nilma Lino Gomes.
- Política e educação - Paulo Freire.
- Paulo Freire: gênese da educação intercultural no Brasil - Ivanilde Apoluceno de Oliveira.
Por Uol Educação
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