O livro ‘Jacu Rabudo’ reúne o que o ponta-grossense tem de melhor na hora de se expressar
Quantas vezes você já tentou se comunicar com o ponta-grossês em outras regiões? Explicar expressões como ‘ade mesmo’ ou ‘curu’ pode ser uma tarefa desafiadora para quem está longe das fronteiras ponta-grossenses. O professor aposentado Hein Leonard Bowles aprendeu desde muito cedo a se apaixonar pelas diversas formas de se manifestar através das palavras. Hein é holandês, filho de professores e um viajante, mas foi em Ponta Grossa que encontrou um dialeto que o fez iniciar o trabalho que marca sua trajetória como escritor. O livro ‘Jacu Rabudo: a linguagem coloquial em Ponta Grossa’ nasceu desta curiosidade pela origem das palavras que Hein herdou e deu prosseguimento com a tese de doutorado em expressões idiomáticas. Foram cinco anos realizando um trabalho investigativo, de muito estudo e paciência para conhecer, selecionar e reunir as principais expressões usadas pelos ponta-grossenses em um livro.
Sobre o método para compilar as palavras usadas, o autor explica que foi um trabalho exaustivo. “Cada expressão eu tomava nota, buscava cada uma delas em um dicionário tradicional, em dicionários regionais, investigava exaustivamente na internet e, por fim, consultava um grupo de pessoas que me servia como um corpo de consultores, antes de autorizar o uso da palavra no livro”. Hein revela que a vivência desde os 11 anos em Ponta Grossa também ajudou, e muito, ele reunir tantas palavras, em que a maioria delas surgia da vivência, das conversas na rua com amigos e familiares.
Publicado originalmente em 2009, o livro se tornou referência nos estudos sobre a língua e os povos de Ponta Grossa, e o sucesso foi tamanho que durante quatro meses foi o livro mais vendido na cidade. “Me surpreendeu, não era minha expectativa. Eu queria fazer um levantamento com seriedade e que as pessoas gostassem, mas não previa este impacto todo.”, conta Hein sobre as expectativas em relação à publicação. Quatorze anos depois, ’Jacu Rabudo’ ainda é utilizado por professores e em salas de aula do ensino básico ao superior. Hein atribui o sucesso ao sentimento de representatividade que conseguiu transmitir pelas palavras. “O livro mexe com a afetividade das pessoas, com toda essa questão emocional. Elas se sentem representadas”.
De acordo com o professor, a origem de diversas expressões veio do cotidiano, da natureza, dos animais e das práticas rurais. Por isso, muitas delas caíram em desuso. É o caso de “vá fuçar banhado”, que vem da tradição rural com os animais, mas que caiu em desuso e pode ser substituída facilmente por “vá tomar banho”. Os costumes também originam novas expressões, exemplo disso é a “vai ganhar de tala erguida”, que vem com a tradição das corridas de cavalo e o Jóquei Clube de Ponta Grossa e quer dizer que vai ganhar facilmente. A palavra “curu” também tem origem em uma situação do cotidiano dos mais antigos. “Havia um francês que trabalhava com empréstimos e tinha fama de ser rígido com a cobrança de dinheiro, o sobrenome dele era Coroux e deu origem à palavra”, explica o professor. Mesmo sendo um universo finito, depois da última edição publicada em 2015, o autor revela que “volta e meia” conhece expressões que não estão no livro, a última descoberta foi “de pé na patrola” que ouviu de um antigo colega.
Mesmo com tantas variedades, os fatores sociais e econômicos também têm influência direta na linguagem, algumas expressões são usadas lá e não acolá. Mas o escritor esclarece: “Dependendo da região onde mora ou o grau de estudo, a linguagem tem esses marcadores. Mas a linguagem informal é tão legítima como a linguagem eleita, pois serve aos seus usuários plenamente e satisfatoriamente”. Afinal, não tem ponta-grossense que não entenda um sonoro e indignado “ade mesmo”.
Por Elisângela Schmidt D'PontaNews
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