Golpe que culminou com a instauração do regime republicano foi comandado por militar monarquista que era amigo do imperador
Há 134 anos, em 15 de novembro de 1889, o Brasil deixava de ser uma Monarquia. Entretanto, a Proclamação da República não se resume a um evento ocorrido nesta data. Ao contrário, trata-se de um conjunto de situações que fizeram com que a monarquia brasileira perdesse apoio político.
O golpe de estado que culminou com a destituição do regime imperial foi liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. O movimento republicano se fortaleceu com militares e civis descontentes com a democracia, somados a questões religiosas e à causa abolicionista.
Um dos fatos que culminou com a instauração do regime democrático foi a fundação do Partido Republicano, em 1870, explica o professor de História do Colégio Marista Londrina, Sergio Cavalheiro. “A alegação era de que o país deveria ser governado por brasileiros e a própria monarquia se tratava de um modelo político europeu, sem nenhuma relação com a realidade do continente americano”, ressalta.
Confira outros fatos e curiosidades sobre a Proclamação da República no Brasil:
1. A questão militar, derivada da Guerra do Paraguai
Embora o Brasil tenha vencido a guerra, os custos elevados levaram o país a uma grave crise econômica, impactando no pagamento de baixos soldos aos militares. Sentindo-se desprestigiados pela monarquia, passaram a ser censurados por suas críticas ao governo, o que resultou no golpe com apoio de civis.
2. Desentendimentos religiosos
Um desentendimento entre o Imperador D. Pedro II e a Igreja Católica teve um papel importante. “Em 1872 o Papa Pio IX ordenou que os maçons fossem expulsos da Igreja, o que não foi aprovado por D. Pedro II, que contava com o Beneplácito Régio, um mecanismo que estabelecia que Bulas papais apenas seriam aplicadas com a sua concordância. Dois bispos brasileiros decidiram obedecer o Papa e foram presos, gerando grande desgaste”, explica o professor. Era significativa a quantidade de maçons na monarquia brasileira.
3. A questão abolicionista
A assinatura da Lei Áurea em 13 de maio de 1888, libertando os escravos no Brasil, sem indenização para os proprietários de negros escravizados, colocou essa elite rural em uma posição contrária à monarquia. O Barão de Cotegipe, então Senador do Império e único parlamentar a votar contra a Lei Áurea em 1888 teria alertado a Princesa Isabel: “A senhora acaba de redimir uma raça e perder a Coroa”. Vale destacar que o Brasil foi o último país do continente americano e um dos últimos do mundo a abolir a escravidão.
4. Falta de um sucessor
Outro elemento importante que enfraqueceu a Monarquia era a falta de um sucessor para o Imperador D. Pedro II que, próximo de completar 64 anos, não tinha um herdeiro homem. “Sua filha, a Princesa Isabel, era casada com o Conde D’Eu, um francês que não contava com a simpatia sequer do seu sogro imperador. Embora a constituição de 1824 permitisse que uma mulher sucedesse o monarca, temia-se que, na prática, o Conde estrangeiro governasse de fato”, aponta o professor.
5. Baile da Ilha Fiscal
O estopim para que a Proclamação da República acontecesse foi o suntuoso Baile da Ilha Fiscal, oferecido para a delegação do Chile que visitava o Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Com o gasto elevado da festa num momento de grave crise econômica, militares e jornalistas não pouparam críticas, gerando um ambiente conveniente para o golpe de 15 de novembro.
6. Informações desencontradas
A Proclamação da República é atribuída ao Marechal Deodoro da Fonseca, contudo, até poucas semanas antes do evento, ele era um monarquista amigo pessoal do Imperador D. Pedro II. Em 15 de novembro, o Marechal derrubou o Visconde de Ouro Preto, presidente do Conselho de Ministros. À princípio, ele não derrubou a monarquia.
Mais tarde, Deodoro recebe a visita do Tenente-Coronel Benjamin Constante, do Major Solon Ribeiro e do jornalista Quintino Bocaiúva. O Major revela que o Imperador D. Pedro II nomeou como presidente do Conselho de Ministros o gaúcho Gaspar Silveira Martins, político do Rio Grande do Sul e desafeto político e pessoal de Deodoro. Sentindo-se traído e sem saber que era uma mentira, o Marechal declara: “Digam ao povo que a República está feita”. Dois dias depois, D. Pedro II e a família embarcaram para o exílio na Europa.
7. Ato provisório
A Proclamação da República foi um ato provisório, uma vez que o povo é quem deveria decidir se o Brasil seria uma República ou voltaria a ser uma Monarquia. Essa decisão seria tomada através de um plebiscito ocorrido apenas em 1993, passados 104 anos do evento. O feriado de 15 de novembro foi criado através do Decreto nº 155-B, em 14 de janeiro de 1890, com uma data cívica para reforçar a mentalidade republicana junto ao povo brasileiro. Em 19 de dezembro de 2002, o Presidente Fernando Henrique Cardoso aprova a Lei 10.607 que cita todos os feriados nacionais, entre eles o da Proclamação da República.
Da Assessoria
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