Christiane Borges é professora do Departamento de Química da Universidade Estadual de Ponta Grossa
Inspirar jovens para que escolham a carreira científica é um dos desafios das instituições de ensino. Mas há casos em que a escolha é natural, como a de Luana Natalie Padilha, de apenas 23 anos, que já está empenhada em realizar o sonho de ser pesquisadora na área de Astronomia. “Muitos pensam que ciência é para poucos, que é preciso ser um gênio para ser cientista e esse é um paradigma que deve ser aniquilado. Para entrar nessa área precisamos ser curiosos e persistentes em buscar conhecimento”, afirma.
Cursando mestrado em Física e Astronomia, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), sua linha de pesquisa é radiação gama e fontes de raios cósmicos galácticos. Desde sua graduação em Física, na qual era uma das quatro alunas em uma turma de quarenta homens, Luana já enfrentava os desafios de escolhas em áreas não tão exploradas pelas mulheres.
“Assim que cheguei na Astronomia, me deparei com uma parcela um pouco maior de mulheres e isso me deixou aliviada. Não me sinto diferente e nem menos capaz que qualquer outro, pelo contrário, me sinto cada vez mais capaz e contente com meus avanços”, comenta a jovem pesquisadora.
Ela é integrante do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) Fenômenos Extremos do Universo, lançado pela Fundação Araucária em setembro. O investimento nas pesquisas será de R$ 1.053.000,00. O objetivo é fortalecer a rede de pesquisadores já constituída e incentivar o seu crescimento para ampliar a presença paranaense na área de Astronomia no cenário internacional.
Mudanças
São inúmeros os exemplos de pesquisadoras que têm atuado incansavelmente pelo avanço da ciência no Paraná. Cada uma com uma história diferente de luta para a conquista de seus objetivos.
Descobrir coisas novas, tentar colaborar no desenvolvimento de novos fármacos e alternativas de biomaterias com o objetivo de melhorar a vida das pessoas foi o que atraiu a pesquisadora Christiane Philippini Ferreira Borges ao caminho da ciência.
Aos 54 anos, 36 deles como pesquisadora, ela conta que enfrentou muitos desafios por ser mulher e negra. Batalhou muito para ter seu trabalho reconhecido. Entrou na universidade na década de 1980, como estudante no curso de engenharia, e depois mudou para química. “Na época uma área predominantemente masculina, foram muitos desafios por ser mulher, por acharem que não tinha capacidade de desenvolver determinadas atividades”, conta.
Professora do Departamento de Química da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) há 26 anos, Christiane lamenta o momento atual de desvalorização da ciência. “Temos que reverter isso, mostrar a importância da ciência e a pandemia serviu um pouco para isso. Foi possível mostrar à sociedade a importância das universidades e da pesquisa em todas as áreas”, afirma.
Ela participa dos editais da Fundação Araucária desde a criação da instituição, apoio que considera fundamental em sua trajetória como pesquisadora. É integrante dos Grupos de Pesquisas Síntese e caracterização espectroscópica de compostos orgânicos e materiais (GSCECOM) e de Pesquisa Materiais Funcionais e Estruturais (GPMFE) da UEPG.
Christiane conta que uma das pessoas que tem como referência na pesquisa brasileira é a professora Yvonne Mascarenhas, que continua atuante aos 90 anos de idade e a faz ter a certeza de que ainda tem muito a contribuir. “Eu atuo desde a iniciação científica até a orientação de alunos do doutorado. Já colaborei com a formação de pessoas que são destaque na pesquisa e hoje são meus chefes. É muito gratificante contribuir para o crescimento da ciência”, destaca.
Incentivo às meninas
Para o presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, o crescimento da participação das mulheres é mérito próprio. Elas venceram barreiras culturais ao longo dos anos e com um alto nível de capacitação estão conquistando o espaço na ciência. "A pesquisa científica brasileira é referência mundial em diversas áreas e as mulheres lideram muitos projetos. Temos mobilizado as instituições para o desenvolvimento de um projeto voltado às mulheres para reforçar ainda mais o nosso apoio”, diz Wahrhaftig.
A pesquisadora Christiane Philippini avalia como de fundamental importância o incentivo às meninas a serem cientistas já no Ensino Médio. “Toda ação que mostra às jovens que elas podem trabalhar com pesquisa científica, divulgando o trabalho de outras pesquisadoras para incentivá-las, faz com que, vendo o exemplo, entendam que têm competência e podem fazer isso também”, afirma.
“Muitas vezes, quando as pessoas veem hoje a estrutura da UEPG e o número de pós-graduações, não valorizam o trabalho daquelas pessoas que estavam aqui atuando anteriormente. Que preferiram trabalhar pelo todo, não só na sua produção científica e no seu crescimento como pesquisador”, defende.
Luana conta que sua inspiração para ser cientista vem de várias vertentes. “Minhas grandes inspirações são os meus ‘padrinhos da ciência’, professora Rita de Cassia dos Anjos e o professor Jaziel Goulart Coelho. Meu sonho e uma das mais importantes metas da minha vida é ser pesquisadora na área de Astronomia. Me esforço todos os dias para alcançá-la com maestria”, afirma.
“Procuro ser uma mulher na ciência que produz e compartilha conhecimento e que, quem sabe um dia, seja inspiração para outros jovens serem pesquisadores, incentivando-as a fazerem parte da construção do novo salto de conhecimento da humanidade”, enfatiza Luana.
Por AEN
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