Com preços acessíveis, maior parte do acervo é voltada para literatura e obras de Ciências Humanas e Sociais
O sebo virtual O Restolho, surgido em Ponta Grossa, funciona em uma página do Instagram e nasceu da ideia de vender o que sobrou do acervo de uma antiga loja física, chamada Velho Buk, fechada em 2014. Marcos Candido, idealizador do projeto, encontrou nas vendas on-line uma maneira de manter ativo o seu negócio.
Vendedor de livros desde 2007, Candido comenta as dificuldades de se manter uma loja física. “Os aluguéis de pontos comerciais ou são muito caros para um empreendimento pequeno ou são pontos com uma localização e estrutura não muito atrativas”, explica. “Se for híbrido, como eu era, acaba-se tirando o lucro das vendas on-line para pagar o aluguel, e isso te deixa sem grana para expandir ou mesmo renovar o estoque e, inevitavelmente, o negócio se torna insustentável”, acrescenta.
Das redes sociais às plataformas online
O proprietário aponta que a experiência em grandes portais de vendas de livros não compensa para quem é “pequeno”, por conta das taxas e comissões. “O livro mais caro que você vai encontrar aqui custa R$ 20. Com as taxas das plataformas on-line, como o Mercado Livre, o livro acaba saindo quase de graça”, afirma o empresário, que encontrou no Instagram a maneira mais adequada ao seu atual fluxo de vendas e aos preços que pratica, o que o remete aos primeiros anos de vendedor.
“Quando comecei a vender livros, em 2007, mais ou menos, utilizava o Orkut para divulgar. Isso antes de plataformas como Estante Virtual ou Amazon se tornarem onipresentes no comércio de livros usados. Depois, mesmo utilizado Mercado Livre e Estante Virtual, por alguns anos usei também o Twitter como ferramenta de vendas. Aos poucos, abandonei essas redes sociais, ou elas deixaram de existir, e me concentrei mais na loja física e nas plataformas de venda. Agora o Instagram é, de certa forma, um retorno ao ‘amadorismo’ daqueles primeiros dias de Orkut”, relata.
Em tempos de pandemia, o comércio enfrenta o desafio de se reinventar para evitar fechar as portas. A ideia de Candido não nasceu nesse contexto, mas ilustra a realidade de quem precisou abrir mão da loja física e vender on-line. Nessa situação, a experiência sensorial de ir a uma livraria é deixada de lado para que as vendas continuem, assim como o hábito da leitura. “A leitura é uma experiência transformadora. Amplia a percepção da pessoa para o mundo, para o que a cerca. Isso tanto faz se é a leitura 'ferramental' ou a 'escapista'”, analisa o empresário, que, em proporção ao seu estoque, diz que as vendas caminham bem. “Tenho outro trabalho no momento. Então só tenho feito os anúncios, vendas e entregas no tempo que resta após o expediente”, comenta.
Apesar de não sobreviver apenas da venda de livros, o proprietário acredita que é possível começar um negócio como o dele no atual contexto da pandemia, mas reforça a importância de se ter um círculo de conhecidos que sejam “potenciais clientes” e, também, um acervo anterior. “Exige, também, um tanto de empenho e tempo para responder todo mundo, fazer a parte ‘manual’ do trabalho etc”, explica.
Acervo e público
O acervo d’O Restolho não está catalogado, mas possui cerca de 8 mil livros, mas, com alguns exemplares dobrados, o número de títulos cai para quase a metade. Candido não renova o seu estoque, apenas vende o que restou de seu antigo sebo. No momento, mantém o acervo em uma pequena sala em sua casa, onde as pilhas de livros dividem espaço com o computador. No cômodo ao lado, ele criou um espaço que será dedicado aos livros que restaram, para que fiquem armazenados de maneira mais adequada. “Estou ajeitando uma sala maior. Assim que fizer as estantes, estarão organizados”, explica.
A maior parte do acervo é voltada para literatura e obras de ciências humanas e sociais. “O público é, na maioria, composto por alunos, ex-alunos e professores das áreas de Letras e Humanas em geral. Mas, tem uma gama bem ampla, inclusive muitos 'saudosistas' que frequentavam a loja física e acabaram descobrindo o perfil”, completa.
Para começar a ler
Àqueles que não têm o hábito da leitura, Marcos deixa a recomendação: “Ache algo que te atrai e leia umas crônicas, uns continhos, umas tirinhas etc. Faça o teu próprio caminho enquanto leitor. É um processo formativo e cumulativo. Aos poucos, pega-se o gosto. Ninguém cai direto em um Proust e acha isso divertido de cara”, conclui.
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