Aponta os estudos feitos pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Um estudo do Laboratório de Cronobiologia Humana (Labcrono) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) comparou a qualidade do sono de adolescentes antes e durante a pandemia de Covid-19, que alterou a rotina escolar e, consequentemente, os hábitos de sono desses jovens. Como resultado, foi possível observar redução da sonolência diurna e dos hábitos de cochilo e aumento das horas de sono.
Durante o período de quarentena, imposto pelo surto de coronavírus, houve mudanças significativa no formato e nos horários das atividades escolares. Os horários, por exemplo, tornaram-se mais flexíveis a partir da possibilidade de os alunos assistirem aulas de forma assíncrona, ou seja, em um momento diferente daquele em que o professor estava realmente lecionando e gravando a aula. “Desse modo, os adolescentes puderam alinhar seus padrões de sono com seus padrões circadianos endógenos, que se originam no organismo”, explica Fernando Mazzilli Louzada, professor do Departamento de Fisiologia e coordenador do Labcrono.
Em artigo recente, os pesquisadores do laboratório esclareceram que a propensão ao sono depende de dois processos: o homeostático, que é relacionado ao número de horas acordadas de uma pessoa, e o circadiano, que depende da hora do dia. Na adolescência, o aumento da propensão ao sono devido ao número de horas acordadas se acumula mais lentamente, por isso essa faixa etária precisa de mais horas acordadas para sentir sono.
Adolescentes passaram a dormir cerca de duas horas a mais
Para realizar o estudo, 259 adolescentes com idade média de 15 anos foram questionados a respeito de seus hábitos de sono em julho de 2020. Os dados coletados foram comparados com as respostas dadas pelos mesmos jovens entre março e junho de 2019.
A análise comparativa indicou que o tempo de permanência dormindo aumentou em mais de duas horas para esses indivíduos e que 80% deles alcançaram o tempo de sono recomendado para adolescentes, que gira entre oito e dez horas por noite. “Mais de dois terços da amostra dormiam menos que o necessário em 2019”, revela o estudo. Além disso, os jovens passaram a ir dormir cerca de uma hora mais tarde, conforme o processo circadiano característico dessa faixa etária.
Ao adequarem os padrões de sono conforme a necessidade fisiológica, os adolescentes sentiram-se menos sonolentos durante o dia e não precisaram recorrer a cochilos diurnos com tanta frequência. O professor afirma que os resultados tornam ainda mais urgente a necessidade de pais, educadores e formuladores de políticas discutirem a respeito de horários escolares mais viáveis, a fim de implementarem essas mudanças com o retorno da aprendizagem presencial.
Privação de sono afeta o aprendizado
A restrição de sono crônica, enfrentada por grande parte dos adolescentes, é causada por fatores sociais, como o horário de início das aulas; biorregulatórios, que dizem respeito à necessidade de sono exigida pelo organismo e ao ritmo circadiano atrasado; e psicossocial, que está relacionado com o exagero do uso de dispositivos tecnológicos durante a noite e com a maior autonomia sobre a hora de dormir.
Segundo os pesquisadores, a adolescência é considerada uma faixa etária marcante de mudanças físicas e mentais, o que reforça o papel essencial do sono adequado na manutenção da saúde e do bem-estar. Contudo, a necessidade de acordar cedo, para alunos do turno matutino, pode desencadear jet lag social (diferença nos horários de sono entre dias letivos e finais de semana), desempenho acadêmico ruim, deficiências emocionais e propensão a comportamentos de risco. “Isso resulta na adoção de diferentes estratégias para driblar a sonolência, como o consumo de cafeína, a ingestão de bebidas energéticas e os cochilos inadequados”, assinala o doutorando Jefferson Souza Santos, um dos autores do artigo.
Estudos apontam que cochilar oferece benefícios para atenção, concentração e consolidação da memória. Por outro lado, os pesquisadores indicam que cochilos prolongados têm o potencial de gerar o chamado “sono inércia”, que prejudica o desempenho físico e cognitivo e afeta o sono noturno subsequente.
Por Assessoria
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